Zelo e padre são duas palavras, pode-se dizer, sinônimas e correlativas. O que a primeira exprime é condição essencial que a segunda exige. Todavia, passando da teoria à prática, podemos bem distinguir quatro espécies de padre no ministério.
1- Há padres zelosos da sua própria salvação e da salvação do povo. São verdadeiramente padres. Santos e apóstolos. Santos, porque não se descuidam da sua perfeição sacerdotal. Apóstolos, porque se atiram à luta para levar ao céu o rebanho que lhes foi confiado. Felizes pastores e felizes rebanhos!
2- Há padres zelosos de sua salvação e indiferentes pela salvação do povo. São bons cristãos, mas não são bons padres. Seriam santos, se não fossem padres, mas já que o são, é preciso ver neles padres imcompletos.
3- Há padres zelosos da salvação do povo e indiferentes de sua própria salvação. São operários cheios de probidade no serviço da Igreja. Não alteram nem a matéria nem a forma dos sacramentos. São pregadores que não deixam a verdade cativa em seus lábios. Tais padres não são traídores do povo, mas são traidores de si próprios. Seriam apóstolos, se fosse possível ser apóstolo, sem ser santo.
4- Há padres indiferentes pela sua própria salvação e indiferentes também pela salvação do povo. Não são apóstolos nem santos. Nem salvadores de almas, nem cristãos de consciência. São padres simplesmente infìéis à sua vocação. Não querem abrir o céu nem para os outros nem para si.
Um bispo francês, em um retiro eclesiástico, pregava ao auditório, com acentos de dor: "Dizeis que a fé se vai extinguindo dia a dia: Vos estis lux mundi! Dizeis que a corrupção dos costumes hoje avassala a sociedade e conquista todas as idades e condições, entretanto: Vos estis sal terrae! A luz teria se apagado? O sal tornou-se insípido? A palavra de Deus não está em vossos lábios? O sangue de Jesus Cristo não está em vossas mãos? Tantos padres, tantos padres, e o cristianismo a se enfraquecer em nossa terra! Há nisto um mistério!!! (Pe. Valuy, S.J.)
Um dia, certo professor de medicina, acompanhando os seus jovens ouvintes a uma sala de hospital, perguntava-lhes, depois de os ter colocado no meio da enfermaria: "Observemos a distância; dizei-me qual é o doente mais gravemente atingido?" - ? - "Vede, é aquele lá ao fundo que tem moscas pousadas no rosto. Quando um doente suporta em total apatia que as moscas lhe ataquem o rosto, isso é só por si, sinal de morte próxima". Este fato acontecido há muito tempo, serve, hoje de parábola: Quando um padre consente que tudo se faça contra Deus, na sua paróquia (ou na sua obra) sem se mexer, sem reagir, isto é um sinal: o seu zelo está morto.
EXEMPLO DE ZELO
Numa pequena paróquia, está moribundo o velho pároco: pregado no seu leito, aguarda a hora de partir, e a hora aproxima-se. Dizem-lhe que um dos seus paroquianos, desde há muito tempo revoltado contra Deus e a Igreja, está também moribundo. Envia-lhe o seu coadjutor. Este vai, mas volta sem ter conseguido coisa alguma. "Ó meu Deus, exclama o velho pároco ao seu coadjutor; peço-lhe que volte lá e diga a este infeliz que ele me prometeu não morrer sem se reconciliar com Deus." O coadjutor obedece, mas o moribundo responde zombando com ar sinistro: "Vai-te embora; a quem eu prometi isto foi ao pároco."
O bom pároco ao saber isto, levanta os braços e os olhos ao céu e depois, sob o influxo duma inspiração súbita, diz: "Tragam-me uma padiola!" Manda colocar sobre ela um enxergão; faz-se transportar para cima dele e envolver em mantas, e ordena: "Vamos! levem-me lá".
E, nas trevas da noite, iluminado por uma tocha que vacila, o moribundo é levado através de ásperos e longos caminhos. Quando o impenitente vê entrar no seu quarto aquela padiola e aquele velho pálido que vem ter com ele, ergue-se no seu leito com extrema dificuldade, e exclama: "Oh! que vem o senhor fazer aqui?!" - "Venho salvá-lo, responde o padre".
Aproximam a padiola da cama do doente e deixam sós os dois moribundos. Quando, passado algum tempo, voltam ao quarto, os dois choram e pela última vez o velho pároco abençoa o doente e diz-lhe: "Meu querido filho espiritual, até breve, no céu!"
O cortejo retoma a sua marcha nas trevas da noite, silencioso, como um cortejo fúnebre. Todos choram comovidos diante de tão heróica caridade. Chegados ao plesbitério, quando pousam a padiola e retiram as mantas, o corpo, cadavérico, fica imóvel; a alma tinha partido!
Ó Jesus, que vos responderei eu, se a mim vos queixardes da inutilidade de vosso sangue: "Quae utilitas in sanguine meo?" Venha sobre mim, este Sangue divino, para me purificar, inflamar e transformar num sacerdote santo! Derramá-lo-ei, então, sobre as almas com mais zelo e eficácia. Amém! Fonte
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